Perspectiva Cibernética - Edson Paim e Rosalda Paim A perspectiva cibernética ou ótica cibernética é uma maneira de abordagem de sistemas, de qualquer natureza, através dos cânones da Cibernética. Pode-se definir a Cibernética como a "ciência das informações, do comando e do controle, no homem, na máquina e na sociedade". Portanto, todos os processos de informações e a totalidade dos mecanismos de controle estão abrangidos pelo campo da cibernética. Para fins operacionais, consideraremos a Teoria da Informação como integrante da Cibernética, uma vez que, sem informações, nenhum dispositivo de controle pode funcionar, enquanto se torna necessário incluir a Cibernética, - disciplina que cuida de todos os processos de informações e a totalidade dos mecanismos de controle, - como componente da Teoria Geral dos Sistemas, pois todos os sistemas, para se manter em equilíbrio (homeostasia), necessita da ação contínua e permanente de mecanismos de controle. A partir deste ponto de vista, além de considerarmos à íntima interação entre o sistema e o respectivo ambiente, os quais se afetam mutuamente - motivo porque não devem ser visualizados de modo independente - acoplamos este conjunto de três ciências mencionadas à Ecologia, com a finalidade de constituírem os componentes essenciais, ou seja, os quatro pilares principais do construto de nossa autoria, designado Sistemismo Ecológico Cibernético (Capítulo X do Livro "Sistemismo Ecológico Cibernético). O Sistemismo Ecológico Cibernético visualiza o Universo como um sistema, constituído, também, por sistemas, consoante a proposta da Teoria Geral do Sistemas, de Lwidg von Bertalanffy e o Princípio do Universo Sistêmico (Edson Paim e Rosalda Paim), em que todos os sistemas, por estarem circundados pelo ambiente (também um sistema), com o qual se relacionam e se influenciam mutuamente (Visão Ecológica dos Sistemas), através de contínuos e permanentes intercâmbios de "matéria, energia e informações" (Teoria da Informação) e são regulados por mecanismos cibernéticos ou "cibernetizados", mediante a utilização de dispositivos de "feedback", naturais ou artificiais. A palavra Cibernética, historicamente, significa a arte da pilotagem (arte do piloto). A Cibernética é entendida como o estudo de “todas as máquinas possíveis” quer sejam construídas pelo homem, quer produzidas pela natureza. “... as máquinas de que a cibernética cuida são os autômatos, ou seja, as que são capazes de realizar operações que, durante a execução, podem ser corrigidas, de tal modo que cumpram melhor seu objetivo. Essa correção chama-se retroalimentação (feedback). Como essa é a característica fundamental das operações realizadas pelo homem ou por qualquer ser inteligente, essas máquinas são chamadas de inteligentes ou cérebros eletrônicos, já que seu funcionamento se deve às propriedades físicas do elétron. 1” Nesta acepção, se poderia, de uma maneira simplificada, afirmar que a Cibernética é a ciência que estuda os sistemas dotados de dispositivos de retroação, retroalimentação ou “feedback” ou mesmo, que ela é a própria ciência do “feedback”. O primeiro dispositivo de “feedback”, que surgiu, aproximadamente em 1780, foi o regulador de Watt, utilizado há mais de dois séculos, mas ninguém percebeu que, bem distante de ser considerado como um “dispositivo simplesmente engenhoso”, ele continha em si mesmo, o germe de uma autêntica revolução. “Larousse define: Regulador, órgão que regulariza o movimento de um mecanismo. Pode-se generalizar a formula. Em lugar da palavra “movimento” escrevamos “funcionamento” e usemos “mecanismo” como se deve, nos dois reinos, artificial e natural. Então, ao definirmos materialmente a regulagem de uma função natural não teremos de golpe, tocado em uma das matérias da vida? ... Para o compreender foi preciso esperar que a escola cibernética mostrasse a virtude do “feedback.2” O “feedback” representa a um mecanismo de retroação, retroalimentação, autocorreção ou auto-regulação. “Feedback”? É um termo da linguagem radiofônica. Significa “alimentar o inverso”. Em francês, os radioeletricistas dizem: “couplage rétro-actif” ou mais comumente: “reation” A primeira expressão é um pouco longa; quando à reação, trata-se de uma palavra um tanto vaga que pode ser aplicada a outros dispositivos. Por isso, ficamos com “feedback” já de uso geral. Usaremos “retroação” para generalizar a noção e dar a este termo seu sentido lógico: ação de um efeito sobre um dos seus fatores. Orgulhosos do que a cibernética tira à sua técnica e ao seu vocabulário, alguns radiotécnicos encolhem os ombros ante a manifestação da nova ciência: “Nós já fazemos isso há muito tempo!“ De acordo! Mas como aconteceu com Watt, e seus sucessores, não usaram eles princípios cuja importância teórica nunca viram. Sim, eles tinham, sem o saber, soluções para problemas apresentados por muitas ciências, inclusive a metafísica. 3” O “feedback” é um dispositivo de autocorreção que permite a uma máquina ou outro organismo, inclusive os seres vivos, regularem o seu funcionamento ou sua ação pelo jogo dos desvios desta mesma ação. É a autocorreção ou a correção de qualquer sistema, mediante a utilização do próprio erro. “O esquema desse funcionamento pode ser percebido nas operações mais simples feitas por um ser humano. Se, ao ver um objeto em certa direção (ou seja, ao receber dele uma mensagem visual) eu estendo o braço para pegá-lo e erro a direção ou a distância, logo a informação desse erro retifica o movimento de meu braço e permite que eu o dirija exatamente para o objeto: tanto a operação como a correção da operação, neste caso, são guiadas por mensagens, ou seja, por informações recebidas ou transmitidas pelo sistema nervoso que dirige o movimento do braço. Por isso, a Teoria da Informação é parte integrante da Cibernética, ou de qualquer modo, está estreitamente ligada a ela. Na Cibernética, também podem ser distinguidos os seguintes aspectos: 1o. Esquema geral da informação; 2o. medida da quantidade de informações; 3o. condições que possibilitam as informações; 4o. objetivos da informação. ” A Cibernética, além de constituir a ciência específica dos sistemas retroativos (auto-reguláveis), bem expressa a idéia de movimento, processo e transformações, sendo capaz de refletir a concepção dinâmica do Universo, já expressa por Heráclito. Em virtude da utilização do mecanismo ou dispositivo de retroação ou “feedback”, alguns autores atribuem a esta ciência características dialéticas, o que permite considerar, a Cibernética e a Dialética, disciplinas afins e complementares. A Cibernética, como uma ciência interdisciplinar, provoca um verdadeiro impacto em todas as ciências, embora o fenômeno sociológico, conhecido como "resistência a mudanças" que sempre atrasa o desenvolvimento em qualquer área, possa retardar a sua adoção em determinados setores das atividades humanas. Quaisquer sistemas abertos, para atingir seus "telos", propósitos ou seus objetivos, necessitam de reajustes constantes e, para esta finalidade, é mister o concurso da Cibernética, "a ciência das informações, do controle e das comunicações no homem, na máquina e na sociedade" e, particularmente, de seu conceito de retroalimentação ou retroação ("feedback"). A importância e a ênfase que é atribuída à Cibernética e ao seu dispositivo de reajuste (“feedback”) fica mais patente quando se destaca o fato de que uma acurada observação nos leva a concluir que grande número de sistemas sociais, políticos e econômicos, assim o como nosso caótico sistema de saúde, têm fracassado, sobretudo porque são operados como sistemas fechados, sem mecanismos de reajustes ("feedback"), ignorando o exemplo do modelo oferecido pelos sistemas vivos (auto-organizadores, auto-reguladores e auto-reprodutores), ora adotado pelo Sistemismo Ecológico-Cibernético. Com referência a necessidade de mudança de um paradigma mecanicista para outro de natureza probabilístico, contingente, Mario Chaves5 diz: “Segundo a física newtoniana que predominou até o fim do século passado, tudo acontecia exatamente de acordo com a lei, num universo compactamente organizado em que todo o futuro dependia de todo o passado. Dela se depreendia uma visão determinística do Universo. Dois físicos, Bolzman na Alemanha e Gibbs nos Estados Unidos introduziram conceitos estatísticos na física e com eles a idéia de um universo probabilístico”, mostrando que a parte funcional da física não poderia furtar-se a considerar a incerteza e contingência dos eventos, como preconiza a estatística, a ciência da distribuição. “O mérito de Gibbs foi o de apresentar um método científico perfeitamente bem definido para considerar essa contingência. Esta concepção teria resultado na primeira grande revolução da física do século XX, na opinião de Norbert Wiener6, fazendo com que a física de nossos dias sustente cuidar não daquilo que irá sempre acontecer, mas antes, do que irá acontecer com esmagadora probabilidade”. De acordo com o autor citado, a inovação de Gibbs foi a de considerar não apenas um mundo, mas todos os mundos que sejam respostas prováveis a um grupo limitado de perguntas referentes ao nosso meio ambiente. Sua noção fundamental se referia à extensão em que as respostas que possamos dar a indagações a cerca de um grupo de mundos são prováveis em meio a um grupo maior de mundos. Gibbs formulou ainda a teoria de que essa probabilidade tendia naturalmente a aumentar a medida que o universo envelhecesse. A medida de tal probabilidade é denominada entropia, sendo a tendência característica da entropia a de aumentar. “La entropía del universo tiende a aumentar, o sea que la energía tiende a distribuirse en el universo en su forma más degradada, anárquica, caótica, indiferenciada, equilibrada y estable posible. 6” Wiener7 se propôs a tratar do impacto do ponto de vista gibsiano na vida moderna, tanto através das mudanças que teria ocasionado na ciência ativa, quanto das alterações que, indiretamente, suscitou em nossa atitude para com a vida em geral. Afirma que seu livro, Cibernectics, or Control and Comunication in the Animal and the Machine, encerra um componente filosófico que diz respeito ao modo por que reagimos ao nosso mundo com que nos defrontamos, e o modo pelo qual deveríamos reagir. Em razão do aumento da entropia, o universo, bem como os sistemas fechados do universo, tenderiam a se deteriorar e a perder a nitidez, passando de um estado de mínima a outro de máxima probabilidade; de um estado de máxima organização e diferenciação, em que existem formas e distinções, a um estado de caos e mesmice. No universo de Gibbs, o caos é o mais provável. Todavia, enquanto o universo como um todo se tende à deterioração, existem enclaves locais cuja direção parece ser o oposto à do universo em geral e nos quais há uma tendência temporária ao incremento da organização. A vida encontra seu habitat em alguns desses enclaves. 8 Na realidade, o nosso planeta se constitui num enclave negentrópico, situado no Universo, tendente essencialmente para a entropia. "Este universo abrange tudo, é tudo e é nada; todos os efeitos participam dele, mas nenhum lhe pertence totalmente. Para caracterizar numa só palavra - é o reino do amorfo. Existe, porém, uma corrente que também abrange tudo, corrente que não importa o que seja, mas que tende a nivelar todas as diferenciações que puderam produzir efeitos: a corrente dos efeitos que desdiferenciam. Diante de nós, no seio do magma, por contingência, realizou-se um efeito que elevou um corpúsculo a um nível diferente do médio. Se as causas deste efeito, porém, não se mantiverem, o corpúsculo projetado a uma diferenciação voltará, fatalmente, à indiferenciação. É a lei da natureza que nivela as diferenciações de potencial, das quedas irreversíveis, da degradação de energia, segundo o princípio de Carnot9 - uma lei que se pode formular assim: cessando as causas que sustem qualquer diferenciação, esta se precipita para um estado de indiferenciação. Esta é a “lei" da famosa função da entropia. Há no Universo mais indiferenciação do que diferenciação, já que as diferenciações que existem são todas suscetíveis de serem niveladas.10" Foi a partir deste ponto de vista, que Norbert Wiener11 (1894-1964), matemático e filósofo, em 1948, o qual fora incumbido pelo governo norte-americano, por ocasião da II Guerra Mundial, de solucionar os problemas de controle automático de direção de tiro de artilharia antiaérea, desenvolve a Cibernética, uma ciência de ciências, destinada a explicar os problemas de controle e comunicações na maquina, no homem e na sociedade. Wiener congregava, em seu redor engenheiros de comunicações, neuro-fisiologistas, psicólogos, cientistas sociais e outros especialistas, interessados em problemas de controle e comunicações na máquina, no homem e na sociedade. Após investigações realizadas, Wiener formulou a idéia em que a medida do erro, isto é, o valor da diferença entre o objetivo colimado, e o resultado alcançado, efetivamente, poderia ser utilizada para regular o sistema, permitindo corrigir a velocidade, o ângulo de tiro, a distância ao alvo e outras variáveis, atribuindo a este mecanismo de auto-regulação a designação de realimentação ou “feedback”. Trata-se da correção, mediante o emprego do próprio erro, ou seja, a utilização, na entrada do processo, dos resultados obtidos na saída do mesmo. Ao aderir à concepção de um universo contingente formulada por Bolzmann e Gibbs, Wiener procura levantar todas as influências culturais decorrentes da vinculação à antiga e ultrapassada visão newtoniana do universo físico. Ao transformar a certeza física em probabilidade maior ou menor, Wiener entende a realidade física como um processo permanente de transformação, diferente de um mecanismo de relojoaria, o qual funciona de acordo com coisas e leis que regem tais coisas. 12" “Podemos tomar como ponto de partida da cibernética na sua forma atual um artigo profético publicado por L. Couffignal13, em 1938, na Revista Europe. O movimento tomou corpo nos Estados Unidos na véspera da última guerra e deu início sob a forma de investigações médicas, prosseguidas pelo Dr. Rosenbleut, do México, em ligação com N. Wiener e a sua equipe do Massachusetts Institute of Tecnology. A continuação da guerra comprometeu este grupo nas investigações sobre armamentos automáticos, capazes de substituir ou ultrapassarem os combatentes humanos.” 14 "O termo cibernética foi adotado por Wiener no decurso do verão de 194715". "A palavra cibernética se encontra já em Platão16, que quatro séculos antes de Cristo se dera conta; entre tantas outras coisas importantes que cuidou o filósofo grego, de que a arte de pilotagem era algo singular. No sentido de que o comando e o controle - a pilotagem - responsável pela condução do barco, das gentes e das idéias - Platão alcançou há mais de 23 séculos um dos âmagos da cibernética como se apresenta hoje, entre nós17”. Fundamentalmente, comando e controle estão na origem de todos os procedimentos cibernéticos. A cibernética “teria originado do conjugado de pelo menos cinco ciências: controle automático, matemática, biologia e teoria das comunicações. Desenvolveu a cibernética a partir de estudo comparativo de máquinas e organismos vivos e retornou a biologia, mas continuando simultaneamente no campo na engenharia e novas definições tem sido sugeridas na tentativa de refletir as virtuosidades desta versátil ciência. 18” A cibernética surgiu como uma ciência de controle e comunicações, tanto do mundo físico como do mundo biológico e social. É “uma ciência nova, que, como a matemática aplicada, corta transversalmente os entrincheirados departamentos da ciência natural: o céu, a terra, os animais e as plantas. Seu caráter interdisciplinar emerge quando considera a economia não como um economista, a biologia não como um biólogo, as máquinas não como um engenheiro. Em cada caso seu tema permanece o mesmo, isto é, como os sistemas se regulam, se reproduzem, evoluem e aprendem. Seu ponto alto é de como os sistemas se organizam. 19" A cibernética se apresenta como uma ciência de panfrontalidade e transdisciplinaridade e se “propõe a unir diversas disciplinas cientificas através de uma metodologia comum, dentro de uma mesma ética, servindo-se em particular da terminologia da teoria do comando e da teoria da informação. Com isso relaciona-se intimamente a comparação dos processos do campo do objeto de uma única ciência com processos formalmente paralelos estudados por uma outra ciência, em particular a simulação de processos biológicos, psicológicos ou lógicos, através da máquina (cibernética) de transformação de informações20". A cibernética se define como a ciência geral dos sistemas ou organismos, independente da natureza física dos elementos ou órgãos que os constituem. Estuda, portanto, estruturas de relações entre os elementos e não propriamente elementos em causa, que reduz a certo número de propriedades funcionais, traduzindo essa atitude no denominador esses elementos átomos de estruturas - ou "caixas negras" - segundo a terminologia, adotada pelos anglo-saxãos. A cibernética se coloca, pois, entre as disciplinas gerais do espírito, o pensamento filosófico, a metodologia ou a matemática.21. Em literatura soviética cibernética é definida como "... a nova ciência de controle finalista e ideal de processos e operações complicadas que tem lugar na natureza viva, na sociedade humana e na indústria22”. O funcionamento cibernético do organismo humano, o da sociedade moderna e dos engenhos espaciais são os principais exemplos desta assertiva. "A cibernética é o esforço para compreender o comportamento dos sistemas complexos23". A cibernética almeja colocar-se, como ciência da Totalidade (Ganzheitswissenschaft), sintética e não analítica à busca das propriedades globais de um sistema ou, mais precisamente, das propriedades resultantes do fato de se tratar de um sistema, conjunto estruturado que ultrapassa a simples soma das partes. O termo "sistema", ou "organismo" associa-se precisamente, a essa idéia de totalidade, de formas globais, correspondendo, no domínio da ação, aquilo que o termo Gestalt traduz, no domínio da percepção ou da comunicação. A interdependência entre as características do sistema, como sistema, a natureza física dos órgãos que o constituem, e que está na base da ciência cibernética, faz aflorar uma ciência de caráter geral, qualquer que seja a natureza de tais órgãos e de tais elementos. Considera-se que a sociometria, ciência que se ocupa de indivíduos reunidos em grupo, a administração ou burocracia, a teoria das mensagens, a mecanologia, ou ciência das maquinas, a filosofia, não são mais que aspectos restritos de uma ciência mais geral dos organismos. Os elementos do sistema considerado são ações ou operações elementares que se encontram reunidas, caracterizando-se por sua função global e sua tipologia (+), contribuindo em conseqüência, para a elaboração de um sistema dinâmico, um sistema de ação que se exerce sobre o resto do mundo e o modifica. 24 Nesta ótica a Teoria Geral dos Sistemas e a Cibernética se aproximam e se entrelaçam, ou melhor, a segunda se afilia à primeira. Cibernética da ação é a ciência das modificações gerais do ambiente, geradas por sistemas de atos estruturados, um sem relação aos outros, de maneira definida. Pode-se tomar de empréstimo, da teoria cibernética geral, um método constante de estudo, que se relaciona àquilo que hoje se denomina "atitude estruturalista", método que consistirá em estudar diferentes tipos de elementos ou "caixas negras", necessários e suficientes para corporificar, quando reunidos, um sistema. …Pode-se dizer que o objetivo da cibernética é o de dominar, ou seja, de compreender um dado sistema, o que se traduz pelas seguintes quatro condições: 1) - conhecer a estrutura interna, em um dado momento; 2) - descrever o conjunto de elementos exteriores, isto é, das ações e reações do sistema circundante… que se manifestam nos limites, ou seja, o conjunto das grandezas físicas medidas nas fronteiras do sistema; 3) - conhecer o estado interior que caracterizam cada uma das caixas negras que constituem o sistema; 4) - ter possibilidade de prever a evolução global do sistema, até um dado momento, em função daquelas mesmas condições de limite, que regem o seu estado interior ou seu estado exterior. 25 O estudo de um sistema deve ultrapassar o conhecimento do seu interior e dos seus limites para alcançar o seu entorno - o seu ambiente, por isso, Sistemismo Ecológico Cibernético (abordado no capítulo X), ao se abeberar dos saberes cibernéticos e o de outros ramos do conhecimento, traz explicita a abrangência do ambiente no estudo de qualquer sistema, atingindo o campo da ecologia e ultrapassando os limites do sistema, em contraposição às metodologias em que a abordagem do ambiente do sistema estudado se encontra apenas implícito. “Uma das características da cibernética e da teoria geral dos sistemas é que conseguem estabelecer uma área comum entre algumas formas da matemática, principalmente as ligadas à teoria das probabilidades, séries estocásticas, análise topológica, teoria dos conjuntos, teoria dos jogos, etc.. e alguns aspectos de sistema complexos, como os encontrados na ciência da vida, do comportamento e da sociedade. Estas poderão, assim, passar a possui o “rigor" (pelo menos em alguns casos), da matematização, se bem que agora, no campo da probabilística e da topologia, a palavra rigor passa a ter a conotação um pouco diversa. 26” A cibernética, como integrante da Teoria Geral dos Sistemas, representa uma revolução mais ampla, no contexto do pensamento científico contemporâneo, consistindo em estudar os fenômenos como atributos de sistemas organizados, estruturando a realidade em sistemas e, cujo enfoque principal é orientado para o intercâmbio de informações entre as partes do sistema (transmissões intra-sistêmicas), isto é, a comunicação interna, objetivando proporcionar o controle e, conseqüentemente o equilíbrio, a homeostasia do sistema considerado. A Cibernética compreende três grandes subdivisões: “A Cibernética teórica, que inclui problemas matemáticos e filosóficos; a Cibernética de sistemas e meios de controle, que inclui os problemas de coletar, processar a produção de informações e também os meios de automação eletrônica; finalmente o campo da aplicação prática dos métodos e meios da Cibernética em todos os campos da atividade humana. 27” O emprego da Cibernética na administração é de fundamental importância. Por outro lado, sem um adequado mecanismo de informações, não poderá haver controle dos sistemas. Por isto, um perfeito funcionamento dos mecanismos de controle dos sistemas, não prescinde da contribuição da Teoria da Informação (parte da Cibernética), esta por sua vez, integrante da Teoria Geral dos Sistemas. Para expressar esta idéia, costumamos usar uma metáfora em que se considera a Cibernética como filha da Teoria Geral dos Sistemas e a Teoria da Informação como sua neta. Na verdade, qualquer mecanismo de controle necessita de aplicação dos conhecimentos relativos a estas três ciências. Não há sistema administrativo, cuja direção e controle prescinda do concurso delas. “O esquema de qualquer informação parece ser constituído, essencialmente, por três elementos: a mensagem emitida, a transmissão e a mensagem recebida. Mas, na realidade, as coisas são bem mais complicadas, porque a mensagem emitida, (por exemplo, uma frase pronunciada em italiano ou o conjunto de pontos e linhas que constituem uma mensagem telegráfica), já é a expressão, a tradução, ou como também se diz, a codificação daquilo que quem emite (emissor) pretende transmitir, por outro lado, a mensagem recebida deve ser entendida, ou seja, retraduzida ou descodificada, para ser registrada pelo receptor e guiar sua conduta. Assim, a mensagem telegráfica transmitida por meio de pontos e linhas deve ser decodificada ou retraduzida em palavras, a frase em italiano deve ser entendida sob a regras e o vocabulário da língua italiana, ou a mensagem não dará nenhuma informação a quem não sabe italiano. Em todas essas passagens, são possíveis equívocos, erros de emissão, de transmissão, de”. codificação e decodificação, bem como perturbações várias, devidas à interferência de ruídos ou de outros fatores mecânicos. 28 As trocas de informações são sempre mediadas por matéria e/ou energia, portanto, a totalidade das relações entre o sistema e o ambiente respectivo consiste, na realidade, em trocas de matéria, energia e informações, entre qualquer que seja sistema em questão (de natureza física, biológica, tecnológica ou social) e o ambiente em que está inserido. "Toda revolução traz consigo transformações, mudanças, crise, sublevação, e também novas estruturas sociais e novos problemas resultantes em muitos casos. A cibernética, seu advento e desenvolvimento constituem em nova revolução, uma segunda revolução industrial que traz em seu âmago novos problemas filosóficos, sociais, econômicos de complexidade nunca antes enfrentados pelo homem.”29 A Cibernética tem grande aplicação na biologia, bem como nas áreas de saúde e de educação. O funcionamento do organismo humano, assim como o de outros sistemas vivos é essencialmente cibernético. “A necessidade de eficácia e a necessidade de compreender incitaram os médicos pela cibernética. Contam-se vários médicos entre os fundadores desta ciência; foram empreendidas investigações de medicina cibernética... a medicina cibernética é a que utiliza a cibernética para o diagnóstico, o tratamento e a compreensão de uma doença. 30” Qualquer sistema precisa se reajustar, segundo as circunstâncias do espaço e do tempo. Podemos dizer que um sistema cibernético é aquele que dispõe e utiliza mecanismos de “feedback”. "Quer se trate de coletividades animais ou humanas, as sociedades, isto é, essas coletividades desde que estejam organizadas - por pouco que sejam - são sistemas cibernéticos. H. Couffignal chegou mesmo a declarar que uma sociedade de pescadores era um sistema cibernético.31” Portanto, da mesma forma, as complexas organizações sociais e econômicas do nosso tempo são sistemas cibernéticos, do que nem todos os administradores desses sistemas têm consciência. Para Idatte32, a contribuição da cibernética não pode ser dispensada, pois segundo Bigelow33, a cibernética é o esforço para compreender os sistemas complexos enquanto, para A. Moles34, é a ciência geral dos organismos, independentemente da natureza física dos mesmos e, para Couffignal35 a cibernética “é a arte de tornar eficaz a ação". Um sistema administrativo sem “feedback” constitui um sistema não cibernético e não pode ser eficiente e eficaz. "... Uma verdadeira infalibilidade se verifica no processo, em relação ao objetivo proposto, graças a regulação, a auto avaliação, ao feedback36". Todos os mecanismos automáticos mais complexos e mais modernos utilizam os mecanismos cibernéticos de “feedback”. “... Há, todavia, duas virtudes científicas peculiares à cibernética que merecem menção explícita. Uma delas é que ela oferece um vocabulário singular e um conjunto singular de conceitos adequados à representação dos mais diversos tipos de sistemas... a segunda virtude peculiar da cibernética é que ela oferece um método para o tratamento científico do sistema em que a complexidade é saliente e demasiado importante para ser ignorada. Tais sistemas são, como bem o sabemos, mais que comuns no mundo biológico37". A abordagem cibernética de qualquer sistema exige corresponde à uma metodologia própria e um sistema discursivo peculiar. Idatte38 afirma “...a unidade humana, assombrosamente impressionante, é o que exige a nossa visão da física a partir da qual Wiener39 construiu sua visão global da cibernética. Conceito fundamental que surge de tal identidade de procedimentos nos diversos campos a partir de uma noção de um universo probabilístico é a conseqüente e inevitável constatação que o longo das transformações permanentes de nossa realidade marchamos de estados mais prováveis de organização da matéria, reencontrando a noção de entropia que havia sido incorporada à Termodinâmica por Carnot40 - Clausius41, sob o ângulo e aspectos novos, bem como sua relação com a informação". “A cibernética oferece esperança de proporcionar métodos efetivos para o estudo e controle de sistemas intrinsecamente dos mais complexos42”. O conceito de um universo probabilístico consoante a visão da física moderna, a noção de “feedback” e a visão ecológica, se conflitam com as metodologias mecanicistas, não orgânicas, bem como para os sistemas sociais herméticos, fechados, como todas as ditaduras. Segundo Idatte43 "a definição que entre tantas outras, parece ser a mais satisfatória, foi proposta por A. Moles44: Ciência Geral dos Organismos, independente da natureza física dos mesmos". Esta definição sugere a possibilidade de aplicação da Cibernética à universalidade dos sistemas, não apenas os nitidamente cibernéticos, mas também aqueles capazes se tornarem tal. Norbert Wiener45, em "Cybernetics or Control and Communication in the Animal and the Machine" formalizou grande parte do pensamento vigente e sugeria áreas potencialmente frutíferas para mais pesquisas. Com a quantificação da transmissão de sinais e a formalização de uma teoria de sistema de controle, amplamente aplicável, tornara-se realidade. Em suas estritas aplicações, a teoria de comunicações e de controle tornou-se um importante fator na tecnologia contemporânea e está na base da segunda revolução industrial. Na primeira revolução industrial, motores primitivos substituíram a energia humana, enquanto o homem realizava uma função de controle. Com a automação, o controle do processo da produção é relegado a servomecanismos, enquanto o operador humano programa, dirige e mantém o sistema automatizado. Um mecanismo de relojoaria é um sistema fechado, tendo um comando preestabelecido, rígido e invariável durante o desempenho, cujo comportamento é, sobretudo, determinista em relação ao objetivo. Diversamente do mecanismo de relojoaria, existe o comando auto-regulável de um processo, por variação de fatores, a partir dos efeitos finais do próprio processo. É uma regulação por uma função que altera o efeito para alterar a causa e vice-versa. Tal tipo de regulagem é chamado retroalimentação, retroação ou “feedback”. Qualquer sistema de controle automático, ou cibernético, dispõe de mecanismo de “feedback”. Para Aurel David46, o vocábulo “feedback” tem um significado bem mais amplo que retroação, significando também a interação. Os processos submetidos a um “feedback” por interação são em nossa realidade universal, em nossa natureza, muito mais comuns e presentes que puramente aleatórios. "E. Maxwell47, ao estudar um dos mais antigos dispositivos intermediários (o regulador de Watt), deu a este aparelho nome de piloto (governor, em grego: Kubernetes)”. O regulador de Watt constitui, pois, um dos primeiros exemplos de mecanismo cibernético e ponto de partida para todos os complexos sistemas de “feedback”. “O tema da cibernética é como os sistemas se auto-regulam, se auto-reproduzem, evoluem e aprendem. Seu ponto mais relevante é a questão de como os sistemas se auto-organizam. 48” O “feedback” é o princípio universal da autocorreção, da retroação, da realimentação, do reajuste, constituindo um processo organizador da realidade. Ä cibernética, como “ciência do controle abrange três esferas principais: controle dos sistemas mecânicos e dos processos manufatureiros; controle da atividade humana organizada, ou seja, seguros, finanças, comércio e transporte; e ainda, o controle dos processos dentro dos organismos vivos”. A esta última esfera pertencem os processos fisiológicos, bioquímicos e biofísicos, associados às funções vitais do organismo e cuja finalidade consistem assegurar a sobrevivência desse organismo dentro de um meio em constante transformação. 49” Com Marcelo D.Azevedo50, diríamos que a cibernética tem um ilimitado poder interativo e retroativo. ...A cibernética intensifica de maneira extraordinária, o procedimento interativo e retroativo, base fundamental do próprio fenômeno vital. Capacidade de auto-avaliação, autocorreção ao longo do processo desencadeado, ou por correções cíclicas no mesmo processo, a implantação da automação terá como base vivencial a permanente aferição dos sucessos e insucessos dos processos humanos e sociais, com o seu contínuo aperfeiçoamento e evolução...”. A retroação se apresenta em grande número de sistemas mecânicos, eletrônicos, administrativos e constituem atributo dos organismos vivos ou organizações sociais. "... A retroação comum a numerosos sistemas mecânicos, eletrônicos, também é atributo dos organismos sociais. Num sentido genérico, a retroação denota uma parte da saída do sistema (output) que, na forma de energia ou informação, volta à entrada (input). Em outras palavras, um sistema dispõe de dispositivos de retroação quando produz uma ação ou resposta à entrada de informação e inclui o resultado da própria ação na nova informação pelo qual seu comportamento ulterior é modificado. 51" A utilização do mecanismo cibernético de “feedback" (retroalimentação) ao tratarmos dos sistemas sociais significa transpor para estes o modelo dos organismos vivos, uma vez que segundo Rapp52 “quando o primeiro processo de “feedback" foi construído pela evolução, começou a vida". O “feedback” corresponde ao retorno do efeito à causa, ou seja, é a volta à entrada de um sistema (“ïnput”) de parte da energia e informação da saída (“output”). “A retroação ou retroalimentação (feedback) são as palavras cunhadas pelos pioneiros do rádio, no início do século” e, "... um sistema dispõe de dispositivo de retroação quando produz uma ação em resposta à entrada de informação e inclui o resultado da própria ação na nova informação pelo qual o seu comportamento ulterior é modificado53". Através do mecanismo de “feedback” se faz a correção por meio do próprio erro. “... O que de mais fundamental e importante encontramos naquilo que chamamos de organismo vivo é sua capacidade de auto-regulação, de realimentação que a complexidade de organização dos elementos componentes do organismo manifesta”. Tal regulação ou “feedback”, que caracteriza os organismos vivos e os sistemas processadores de informações, produz aquilo que operacionalmente denominamos de lógica dos efeitos, ou seja, uma espécie de infalibilidade no atingir o objetivo proposto, através do processo desenvolvido e utilizado54. Como já se afirmou, a Teoria da Informação faz parte da Cibernética e esta, por suja vez, integra a Teoria Geral dos Sistemas. Logo, a Teoria da Informação, como a Cibernética, está contida na Teoria Geral dos Sistemas. Estas três teorias (juntamente com outros ramos do conhecimento que lhe deram origem), formam o Sistemismo. Poderíamos, também, designá-lo Sistemismo Cibernético, em decorrência de ser a Cibernética integrante da Teoria Geral dos Sistemas, emprestando-lhe, portanto, tal atributo. A Teoria Geral dos Sistemas (nela incluídas a Cibernética e a Teoria da Informação), constitui o Sistemismo Cibernético que, ao se lhe acoplar conceitos da Ecologia, permitiu a elaboração do Sistemismo Ecológico Cibernético, um construto de nossa autoria, contido no Capítulo X. Em virtude da pertinência com o presente Capítulo, apresentamos, a seguir, um dos Princípios do Sistemismo Ecológico Cibernético: 1 - Princípio do Paradigma Cibernético O modelo dos organismos vivos e dos ecossistemas naturais - sistemas auto-organizadores, auto-reguladores e auto-reprodutores, - sobretudo a estrutura do genoma humano e o funcionamento cibernético do cérebro, incluindo a consciência - cujos mecanismos homeostáticos objetivam assegurar sua homeostasia, caracterizando-os como sistemas cibernéticos, constitui referencial adequado para a abordagem do sistema humano e para orientar intervenções no seu corpo e/ou no respectivo ambiente, além de servir de base para a idealização, a construção, a organização, o funcionamento, a administração, a avaliação e os reajustes de sistemas tecnológicos e sociais (globais ou de cada um dos seus subsistemas) e, corresponde ao paradigma central do Sistemismo Ecológico Cibernético.
A Perspectiva Cibernética é a percepção da realidade, visualizada através do prisma cibernético. O ponto de vista cibernético constitui um dos aspectos da Metodologia Sistêmica Ecológica Cibernética, de autoria de Rosalda Paim & Edson Paim. A descrição da Perspectiva Cibernética consta da primeira postagem deste blog, sob igual título e reproduzida em 22-02-2013.
sábado, 14 de março de 2020
sexta-feira, 13 de março de 2020
Homeostase e Feedback
Para que o organismo humano consiga manter sua organização é necessário que mecanismos fisiológicos diversos aconteçam de forma ordenada e em pleno equilíbrio.
A unidade básica de todo ser vivo é a célula que ao se unir de forma correta e equilibrada gera os tecidos que por sua vez formam os mais variados órgãos que ao se juntarem formam os sistemas que em conjunto vão dar origem ao organismo humano.
O esquema abaixo mostra claramente essa ordenação que se iniciou com um átomo e chegou à plenitude de nosso corpo.
https://www.fisiologiafacil.com.br/cursos/fisiologia/homeostase-e-feedback
A unidade básica de todo ser vivo é a célula que ao se unir de forma correta e equilibrada gera os tecidos que por sua vez formam os mais variados órgãos que ao se juntarem formam os sistemas que em conjunto vão dar origem ao organismo humano.
O esquema abaixo mostra claramente essa ordenação que se iniciou com um átomo e chegou à plenitude de nosso corpo.
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